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OS MAIAS

parecia beber o canto. Na face de Carlos passava um sorriso enternecido pensando em Madame Rughel, que viajara na Filandia, e cantava ás vezes aquella Primavera nas suas horas de sentimentalismo flamengo...

Steinbroken soltou um stacato agudo, isolado como uma voz n’um alto, — ­e immediatamente, afastando-se do piano, passou o lenço sobre as fontes, sobre o pescoço, rectificou com um puchão a linha da sobrecasaca, e agradeceu o acompanhamento ao Cruges n’um silencioso shake-hands.

— ­Bravo! bravo! berrava o marquez, batendo as mãos como malhos.

E outros applausos resoaram á porta, dos parceiros do whist, que tinham findado a partida. Quasi immediatamente os escudeiros entravam com um serviço frio de croquettes e sandwiches, offerecendo St. Emilion ou Porto; e sobre uma meza, entre os renques de calices, a puncheira fumegou n’um aroma doce e quente de cognac e limão.

— ­Então, meu pobre Steinbroken, exclamou Affonso, vindo-lhe bater amavelmente no hombro, ainda dá d’esses bellos cantos a estes bandidos, que o maltratam assim ao bilhar?

— ­Fui essfôladito, si, essfôladito. Agradecido, nô, prefiro um copita Porto...

— ­Hoje fomos nós as victimas, disse-lhe o general respirando com delicia o seu punch.

— ­Você tãbem, meu genêral?

— ­Sim, senhor, tambem me cascaram...