OS MAIAS
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passa-se lá bem... Então, decidido! Terça feira vou-te buscar ao Ramalhete, e vamo-nos gouvarinhar.

Carlos ficou pensando n’aquella proposta do Ega, na maneira como elle sublinhára o empenho da condessa. Lembrava-se agora que ella era muito intima da Cohen: e ultimamente, em S. Carlos, n’aquella facil visinhança de frisa, surprehendera certos olhares d’ella... Mesmo, segundo o Taveira, ella realmente fazia-lhe um olhão. E Carlos achava-a picante, com os seus cabellos crespos e ruivos, o narizinho petulante, e os olhos escuros, d’um grande brilho, dizendo mil cousas. Era deliciosamente bem feita — ­e tinha uma pelle muito clara, fina e doce á vista, a que se sentia mesmo de longe o setim.

Depois d’aquelle dia tristônho de aguaceiros, elle resolvera passar um bom serão de trabalho, ao canto do fogão, no conforto do seu robe-de-chambre. Mas ao café, os olhos da Gouvarinho começaram a faiscar-lhe por entre o fumo do charuto, a fazer-lhe um olhão, collocando-se tentadoramente entre elle e a sua noite d’estudo, pondo-lhe nas veias um vivo calor de mocidade... Tudo culpa do Ega, esse Mephistopheles de Celorico!

Vestiu-se, foi a S. Carlos. Ao sentar-se porém á boca da frisa, preparado, de collete branco e perola negra na camisa, — ­em logar dos cabellos crespos e ruivos, avistou a carapinha retinta de um preto, um preto de doze annos, trombudo e lusidio, de grande collarinho á mamã sobre uma jaqueta de botões amarellos;