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OS MAIAS

grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois couraçados inglezes, dormiam, com as mastreações immoveis, como tomados de preguiça, cedendo ao affago do clima doce...

— ­Vimos agora lá em baixo, disse Craft indo sentar-se no divan, uma esplendida mulher, com uma esplendida cadellinha griffon, e servida por um esplendido preto!

O sr. Damaso Salcêde, que não despegava os olhos de Carlos, acudiu logo:

— ­Bem sei! Os Castro Gomes... Conheço-os muito... Vim com elles de Bordeus... Uma gente muito chic que vive em Paris.

Carlos voltou-se, reparou mais n’elle, perguntou-lhe, affavel e interessando-se:

— ­O senhor Salcêde chegou agora de Bordeus?

Estas palavras pareceram deleitar Damaso como um favor celeste: ergueu-se immediatamente, approximou-se do Maia, banhado n’um sorriso:

— ­Vim aqui ha quinze dias, no Orenoque. Vim de Paris... Que eu em podendo é lá que me pilham! Esta gente conheci-a em Bordeus. Isto é, verdadeiramente conheci-a a bordo. Mas estavamos todos no Hotel de Nantes... Gente muito chic: creado de quarto, governanta ingleza para a filhita, femme de chambre, mais de vinte malas... Chic a valer! Parece incrivel, uns brazileiros... Que ella na voz não tem sutaque nenhum, falla como nós. Elle sim, elle muito sutaque... Mas elegante tambem, v. ex.ª não lhe pareceu?