OS MAIAS
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— ­Vermouth? perguntou-lhe o creado, offerecendo a salva.

— ­Sim, uma gotinha para o appetite. V. ex.ª não toma, sr. Maia? Pois eu, assim que posso, é direitinho para Paris! Aquillo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro... Eu, em não indo lá todos os annos, acredite v. ex.ª, até começo a andar doente. Aquelle boulevarsinho, hein!... Ai, eu goso aquillo!... E sei gosar, sei gosar, que eu conheço aquillo a palmo... Tenho até um tio em Paris.

— ­E que tio! exclamou Ega, approximando-se. Intimo do Gambetta, governa a França... O tio do Damaso governa a França, menino!

Damaso, escarlate, estourava de gôso.

— ­Ah, lá isso influencia tem. Intimo do Gambetta, tratam-se por tu, até vivem quasi juntos... E não é só com o Gambetta; é com o Mac-Mahon, com o Rochefort, com o outro de que me esquece agora o nome, com todos os republicanos, emfim!... É tudo quanto elle queira. V. ex.ª não o conhece? É um homem de barbas brancas... Era irmão de minha mãe, chama-se Guimarães. Mas em Paris chamam-lhe Mr. de Guimaran...

N’esse momento a porta envidraçada abriu-se de golpe, Ega exclamou: «Saude ao poeta»!

E appareceu um individuo muito alto, todo abotoado n’uma sobrecasaca preta, com uma face escaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, romanticos bigodes grisalhos: já todo calvo na frente, os anneis fôfos d’uma grenha muito