OS MAIAS
213

— ­E deixemo-nos já de excellencias! que eu vi-te nascer, meu rapaz! trouxe-te muito ao collo! sujaste-me muita calça! Co’os diabos, dá cá outro abraço!

Craft olhava estas cousas vehementes, impassivel; Damaso parecia impressionado; Ega apresentou um copo de vermouth ao poeta:

— ­Que grande scena, Alencar! Jesus, Senhor! Bebe, para te recuperares da emoção...

Alencar esgotou-o d’um trago: e declarou aos amigos que não era a primeira vez que via Carlos. Já o admirara no seu phaeton, muitas vezes, e aos seus bellos cavallos inglezes. Mas não se quizera dar a conhecer. Elle nunca se atirava aos braços de ninguem, a não ser das mulheres... Foi encher outro calice de vermouth, e com elle na mão, plantado diante de Carlos, começou, n’um tom pathetico:

— ­A primeira vez que te vi, filho, foi no Pote das Almas! Estava eu no Rodrigues, esquadrinhando alguma d’essa velha litteratura, hoje tão despresada... Lembro-me até que era um volume das Eclogas do nosso delicioso Rodrigues Lobo, esse verdadeiro poeta da natureza, esse rouxinol tão portuguez, hoje, está claro, mettido a um canto, desde que para ahi appareceu o Satanismo, o Naturalismo e o Bandalhismo, e outros esterquilinios em ismo... N’esse momento passaste, disseram-me quem eras, e cahiu-me o livro da mão... Fiquei alli uma hora, acredita, a pensar, a rever o passado...

E atirou o vermouth ás goellas. Ega, impaciente,