OS MAIAS
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Assim atacado, entre dois fogos, Ega trovejou: justamente o fraco do realismo estava em ser ainda pouco scientifico, inventar enredos, crear dramas, abandonar-se á phantasia litteraria! a fórma pura da arte naturalista devia ser a monographia, o estudo secco d’um typo, d’um vicio, d’uma paixão, tal qual como se se tratasse d’um caso pathologico, sem pittoresco e sem estylo!...

— ­Isso é absurdo, dizia Carlos, os caracteres só se podem manifestar pela acção...

— ­E a obra d’arte, accrescentou Craft, vive apenas pela fórma...

Alencar interrompeu-os, exclamando que não eram necessarias tantas philosophias.

— ­Vocês estão gastando cêra com ruins defuntos, filhos. O realismo critica-se d’este modo: mão no nariz! Eu quando vejo um d’esses livros, enfrasco-me logo em agua de colonia. Não discutamos o excremento.

— ­Sole normande? perguntou-lhe o creado, adiantando a travessa.

Ega ía fulminal-o. Mas, vendo que o Cohen dava um sorriso enfastiado e superior a estas controversias de litteraturas, calou-se; occupou-se só d’elle, quiz saber que tal elle achava aquelle S.t Emilion; e, quando o viu confortavelmente servido de sole normande, lançou com grande alarde de interesse esta pergunta:

— ­Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O emprestimo faz-se ou não se faz?

E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados, que