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OS MAIAS

aquella questão do emprestimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episodio historico!...

O Cohen collocou uma pitada de sal á beira do prato, e respondeu, com auctoridade, que o emprestimo tinha de se realisar absolutamente. Os emprestimos em Portugal constituiam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensavel, tão sabida como o imposto. A unica occupação mesmo dos ministerios era esta — ­cobrar o imposto e fazer o emprestimo. E assim se havia de continuar...

Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, d’esse modo, o paiz ia alegremente e lindamente para a banca-rota.

— ­N’um galopesinho muito seguro e muito a direito, disse o Cohen, sorrindo. Ah, sobre isso, ninguem tem illusões, meu caro senhor. Nem os proprios ministros da fazenda!... A banca-rota é inevitavel: é como quem faz uma somma...

Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, hein! E todos escutavam o Cohen. Ega, depois de lhe encher o calice de novo, fincara os cotovellos na meza para lhe beber melhor as palavras.

— ­A banca-rota é tão certa, as cousas estão tão dispostas para ella — ­continuava o Cohen — ­que seria mesmo facil a qualquer, em dois ou tres annos, fazer fallir o paiz...

Ega gritou sofregamente pela receita. Simplesmente isto: manter uma agitação revolucionaria constante; nas vesperas de se lançarem os emprestimos haver duzentos maganões decididos que cahissem á