OS MAIAS
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E ter justamente por filho um Jacobino, parecia-lhe uma provação comparavel só ás de Job!

Ao principio, na esperança que o menino se emendasse, contentou-se em lhe mostrar um carão severo e chamar-lhe com sarcasmo — ­cidadão! Mas quando soube que seu filho, o seu herdeiro, se misturara á turba que, n’uma noite de festa civica e de luminarias, tinha apedrejado as vidraças apagadas do sr. Legado d’Áustria, enviado da Santa Alliança — ­considerou o rapaz um Marat e toda a sua colera rompeu. A gota cruel, cravando-o na poltrona, não lhe deixou espancar o mação, com a sua bengala da India, á lei de bom pae portuguez: mas decidiu expulsal-o de sua casa, sem mezada e sem benção, renegado como um bastardo! Que aquelle pedreiro livre não podia ser do seu sangue!

As lagrimas da mamã amolleceram-n’o; sobretudo as razões d’uma cunhada de sua mulher, que vivia com elles em Bemfica, senhora irlandeza de alta instrucção, Minerva respeitada e tutelar, que ensinara inglez ao menino e o adorava como um bébé. Caetano da Maia limitou-se a desterrar o filho para a quinta de Santa Olavia; mas não cessou de chorar no seio dos padres, que vinham a Bemfica, a desgraça da sua casa. E esses santos lá o consolavam, affirmando-lhe que Deus, o velho Deus d’Ourique, não permittiria jámais que um Maia pactuasse com Belzebut e com a Revolução! E, á falta de Deus Padre, lá estava Nossa Senhora da Soledade, padroeira da casa e madrinha do menino, para fazer o bom milagre.