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OS MAIAS

rapaz. Dei lá cama e mesa, e dinheiro para a algibeira, a muita d’essa canalha que hoje por ahi trota em coupé da companhia e de correio atraz... E agora, quando me avistam, voltam para o lado o focinho...

— ­Isso são imaginações, disse Carlos com amisade.

— ­Não são, Carlos, respondeu o poeta, muito grave, muito amargo. Não são. Tu não sabes a minha vida. Tenho soffrido muito repellão, rapaz. E não o merecia! Palavra, que o não merecia.

Agarrou o braço de Carlos, e com a voz abalada:

— ­Olha que esses homens que por ahi figuram embebedavam-se comigo, emprestei-lhes muito pinto, dei-lhes muita ceia... E agora são ministros, são embaixadores, são personagens, são o diabo. Pois offereceram-te elles um bocado do bolo agora que o teem na mão? Não. Nem a mim. Isto é duro, Carlos, isto é muito duro, meu Carlos. E que diabo, eu não queria que me fizessem conde, nem que me dessem uma embaixada... Mas ahi alguma cousa n’uma secretaria... Nem um chavelho! Emfim, ainda há para o bocado do pão, e para a meia onça do tabaco... Mas esta ingratidão tem-me feito cabellos brancos... Pois não te quero massar mais, e que Deus te faça feliz como tu mereces, meu Carlos!

— ­Tu não queres subir um bocado, Alencar?

Tanta franqueza enterneceu o poeta.

— ­Obrigado, rapaz, disse elle, abraçando Carlos. E agradeço-te isso, porque sei que vem do coração... Todos vocês teem coração... Já teu pae o tinha, e largo, e grande como o d’um leão! E agora crê uma