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OS MAIAS

tenho uma manhã de trabalho com o Maia... Vamos ás colxas.

N’esse domingo, justamente, deviam ir ás colxas, ao Lumiar. Carlos concebera um boudoir, todo revestido de colxas antigas de setim, bordadas a dous tons especiaes, perola e botão d’ouro. O tio Abrahão esquadrinhava-as por toda a Lisboa e pelos suburbios; e n’essa manhã viera annunciar a Carlos a existencia de duas preciosidades, so beautiful! oh! so lovely! em casa de umas senhoras Medeiros que esperavam o sr. Maia ás duas horas...

Já tres vezes Damaso tossira, olhara o relogio, — ­mas, vendo Carlos confortavelmente mergulhado na Revista, recahia tambem na sua indolencia de homem chic, investigando o Figaro. Emfim, dentro, o relogio Luiz XV cantou argentinamente as duas...

— ­Esta é boa, exclamou Damaso ao mesmo tempo, com uma palmada na coxa. Olha quem aqui me apparece! A Suzanna! A minha Suzanna!

Carlos não despegara os olhos da pagina.

— ­Oh Carlos, accrescentou elle, fazes favor? Ouve. Ouve esta que é boa. Esta Suzanna é uma pequena que eu tive em Paris... Um romance! Apaixonou-se por mim, quiz-se envenenar, o diabo!... Pois diz aqui o Figaro que debutou nas Folies-Bergeres. Falla n’ella... É boa, hein? E era rapariguita chic... E o Figaro diz que ella teve aventuras, naturalmente sabia o que se passou comigo... Todo o mundo sabia em Paris. Ora a Suzanna!... Tinha bonitas pernas. E custou-me a vêr livre d’ella!