Arredondava o olho, ameaçador. Desde o seu feito no Gremio, quando o rachitico apavorado emmudecera diante d’elle, Damaso ia-se tornando feroz. Pela menor cousa fallava em «quebrar caras.»
— A ninguem! repetia elle, com puxões ao collete. Desconsiderações, a ninguem!
N’esse momento ouviu-se dentro, no escriptorio, a voz rapida do Ega — e quasi immediatamente elle appareceu, com um ar de pressa, e atarantado.
— Olá, Damasosinho!... Carlos, dás-me aqui em baixo uma palavra?
Desceram do terraço, penetraram no jardim, até junto de duas olaias em flôr.
— Tu tens dinheiro? — foi ahi logo a exclamação anciosa do Ega.
E contou a sua terrivel atrapalhação. Tinha uma letra de noventa libras que se vencia no dia seguinte. Além d’isso, vinte e cinco libras que devia ao Eusebiosinho, e que elle lhe reclamara n’uma carta indecente: e era isto que desesperava o Ega...
— Quero pagar a esse canalha, e quando o vir collar-lhe a carta á cara com um escarro. Além d’isso a letra! E tenho para tudo isto quinze tostões...
— O Eusebiosinho é homem de ordem... Emfim, queres cento e quinze libras, disse Carlos.
Ega hesitou, com uma côr no rosto. Já devia dinheiro a Carlos. Estava-se sempre dirigindo áquella amisade, como a um cofre inexgotavel...
— Não, bastam-me oitenta. Ponho o relogio no prego, e a pelissa, que já não faz frio...