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OS MAIAS

Ega curvou-se. Sim senhor, d’accordo! Alli estava uma maneira intelligente de comprehender o baile dos Cohens!

— ­E tu, de que vaes? perguntou-lhe Affonso.

Era um segredo. Tinha a theoria de que, n’aquellas festas, um dos encantos consistia na surpreza: dois sujeitos por exemplo que tendo jantado juntos, de jaquetão, no Bragança, se encontram á noite, um na purpura imperial de Carlos V, outro com a escopeta de bandido da Calabria...

— ­Eu cá não faço segredo, disse ruidosamente Damaso. Eu cá vou de selvagem.

— ­Nú?

— ­Não. De Nelusko na Africana. Oh sr. Affonso da Maia, que lhe parece? Acha chic?

— ­Chic não exprime bem, disse Affonso sorrindo. Mas grandioso, é, decerto.

Quizeram então saber como ía Craft. Craft não ía de cousa nenhuma; Craft ficava nos Olivaes, de robe de chambre.

Ega encolheu os hombros com tedio, quasi com colera. Aquellas indifferenças pelo baile dos Cohens feriam-n’o como injurias pessoaes. Elle estava dando a essa festa o seu tempo, estudos na bibliotheca, um trabalho fumegante de imaginação; e pouco a pouco ella tomava aos seus olhos a importancia de uma celebração d’arte, provando o genio de uma cidade. Os «dominós», as abstenções, pareciam-lhe evidencias de inferioridade de espirito. Citou então o exemplo do Gouvarinho: alli estava um homem de occupações,