OS MAIAS
265

de posição politica, nas vesperas de ser ministro, que não só ía ao baile, mas estudara o seu costume: estudara, e ía muito bem, ía de marquez de Pombal!

— ­Reclame para ser ministro, disse Carlos.

— ­Não o precisa, exclamou Ega. Tem todas as condições para ser ministro: tem voz sonora, leu Mauricio Block, está encalacrado, e é um asno!...

E no meio das risadas dos outros, elle, arrependido de demolir assim um cavalheiro que se interessava pelo baile dos Cohens, acudiu logo:

— ­Mas é muito bom rapaz, e não se dá ares nenhuns! É um anjo!

Affonso reprehendia-o, risonho e paternal:

— ­Ora tu, John, que não respeitas nada...

— ­O desacato é a condição do progresso, sr. Affonso da Maia. Quem respeita decahe. Começa-se por admirar o Gouvarinho, vae-se a gente esquecendo, chega a reverenciar o monarcha, e quando mal se precata tem descido a venerar o Todo-Poderoso!... É necessario cautela!

— ­Vae-te embora, John, vae-te embora! Tu és o proprio Anti-Christo...

Ega ía responder, exhuberante e em veia — ­mas dentro o tinir argentino do relogio Luiz XV, com o seu gentil minuete, emmudeceu-o.

— ­O que? quatro horas!

Ficou aterrado, verificou no seu proprio relogio, deu em redor rapidos, silenciosos apertos de mão, desappareceu como um sopro.

Todos de resto estavam pasmados de ser tão tarde!