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OS MAIAS

— ­Ora venha cá o meu lindo amigo, para vermos isso. Que magnifico cabello elle tem, senhora condessa!...

Ella sorrio. E Charlie, seriosinho, bem ensinado, sem aquelle terror do medico de que fallara a mamã, veio logo, desapertou delicadamente o seu grande collarinho, e, quasi entre os joelhos de Carlos, dobrou o pescoço macio e alvo como um lyrio.

Carlos vio apenas uma pequena mancha côr de rosa desvanecendo-se; do «caroço» não havia vestigio; e então uma ligeira vermelhidão subiu-lhe ao rosto, procurou vivamente os olhos da condessa, como comprehendendo tudo, querendo vêr n’elles a confissão do sentimento que a trouxera alli com um pretexto pueril, sob aquella toilette negra, aquelles véos que a mascaravam...

Mas ella permaneceu impenetravel, sentada á borda do divan, com as mãos crusadas, attenta, como esperando as suas palavras, n’um vago susto de mãe.

Carlos abotoou o collarinho do pequeno, e disse:

— ­Não é absolutamente nada, minha senhora.

No entanto, fez perguntas de medico sobre o regimen e a natureza de Charlie. A condessa, n’um tom pesaroso, queixou-se de que a educação da creança não fosse, como ella desejava, mais forte e mais viril; mas o pae oppunha-se ao que elle chamava «a aberração ingleza», a agua fria, os exercicios a todo o ar, a gymnastica...

— ­A agoa fria e a gymnastica, disse Carlos sorrindo, teem melhor reputação do que merecem... É o seu unico filho, senhora condessa?