OS MAIAS
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— ­É, tem os mimos de morgado, disse ella passando a mão pelos cabellos louros do pequeno.

Carlos assegurou-lhe que, apezar do seu aspecto nervoso e delicado, Charlie não devia dar-lhe cuidado; nem havia necessidade de o exilar para os ares de Formoselha... Depois ficaram um momento callados.

— ­Não imagina como me tranquillisou, disse ella, erguendo-se, dando um geito ao veu. De mais a mais é um gosto vir consultal-o... Não ha aqui o menor ar de doença, nem de remedios... E realmente tem isto muito bonito... — ­accrescentou, dando um olhar lento em redor aos velludos do gabinete.

— ­Tem justamente esse defeito, exclamou Carlos rindo. Não inspira nenhum respeito pela minha sciencia... Eu estou com idêas d’alterar tudo, pôr aqui um crocodilho empalhado, corujas, retortas, um esqueleto, pilhas d’in-folios...

— ­A cella de Fausto.

— ­Justamente, a cella de Fausto.

— ­Falta-lhe Mephistopheles, disse ella alegremente, com um olhar que brilhou sob o véo.

— ­O que me falta é Margarida!

A senhora condessa, com um lindo movimento, encolheu os hombros, como duvidando discretamente; depois tomou a mão de Charlie, e deu um passo lento para a porta, puxando outra vez o véo.

— ­Como v. ex.ª se interessa pela minha installação, acudiu Carlos querendo retel-a, deixe-me mostrar-lhe a outra sala.