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OS MAIAS

Carlos, que dava pela sala passos impacientes, não respondeu, tomou o braço do Taveira, levou-o para o corredor.

— ­Dize-me uma cousa: onde viste tu o Damaso, com essa gente? Para que lado iam?

— ­Iam pelo Chiado abaixo; ante-hontem, ás duas horas... Estou convencido que iam para Cintra. Levavam uma maleta no landau, e atraz ia uma criada n’um coupé com uma mala maior... Aquillo cheirava a ida a Cintra. E a mulher é divina! Que toilette, que ar, que chic!.. É uma Venus, menino!... Como conheceria elle aquillo?...

— ­Em Bordeus, n’um paquete, não sei onde!

— ­Eu do que gostei foi dos ares que elle se ia dando por aquelle Chiado! Cumprimento para a direita, cumprimento para a esquerda... A debruçar-se, a fallar muito baixo para a mulher, com olho terno, alardeando conquista...

— ­Que besta! exclamou Carlos, batendo com o pé no tapete.

— ­Chama-lhe besta, disse o Taveira. Vem a Lisboa, por acaso, uma mulher civilisada e decente, e é elle que a conhece, e é elle que vae com ella para Cintra! Chama-lhe besta!... Anda d’ahi, vamos á partidinha de dominó.

Taveira ultimamente introduzira o dominó no Ramalhete — ­e havia agora alli, ás vezes, partidas ardentes, sobretudo quando apparecia o marquez. Porque a paixão do Taveira era bater o marquez.

Mas foi necessario que o marquez acabasse de bracejar,