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OS MAIAS

a abraçal-o ruidosamente — ­e sem o deixar sequer sentar, nem estender a mão aos outros, implorou-lhe logo uma das suas bellas canções filandezas, uma só, d’aquellas que lhe faziam tão bem á alma!...

— ­Só a Ballada, Steinbroken... Eu tambem não me posso demorar, que tenho aqui a partida á espera. Só a Ballada!... Vá, salta lá para dentro para o piano, Cruges...

O diplomata sorria, dizia-se cançado, tendo já feito musica deliciosa no Paço com Sua Magestade. Mas nunca sabia resistir áquelle modo folgazão do marquez — ­e lá foram para a sala do piano, de braço dado, seguidos pelo Cruges, que levara uma eternidade a desenroscar-se do canto do sophá. E d’ahi a um momento, atravez dos resposteiros meio corridos, a bella voz de barytono do diplomata espalhava pelas salas, entre os suspiros do piano, a emballadora melancolia da Ballada, com a sua lettra traduzida em francez, que o marquez adorava, e em que se fallava das nevoas tristes do Norte, de lagos frios e de fadas loiras...

Taveira e Carlos, no entanto, tinham começado uma grande partida de dominó, a tostão o ponto. Mas Carlos n’essa noite não se interessava, jogando distrahido, a cantarolar tambem baixo bocados tristes da Ballada: depois, quando já Taveira tinha só uma pedra diante de si, e elle estava comprando interminavelmente as que restavam, voltou-se para o lado, para o Craft, a perguntar se o hotel da Lawrence, em Cintra, estava aberto todo o anno...