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OS MAIAS

toda a parte o luminoso ar de abril punha a doçura do seu velludo.

Defronte do hotel da Lawrence, Carlos retardou o passo, mostrou-o ao Cruges.

— ­Tem o ar mais sympathico, disse o maestro. Mas valeu muito a pena ir para o Nunes, só para vêr aquella scena... E então com quê o sr. Carlos da Maia tem experiencia de hespanholas?

Carlos não respondeu, os seus olhos não se despegavam d’aquella fachada banal, onde só uma janella estava aberta com um par de botinas de duraque seccando ao ar. Á porta, dous rapazes inglezes, ambos de knicker-bokers, cachimbavam em silencio; e defronte, sentados sobre um banco de pedra, dous burriqueiros ao lado dos burros, não lhes tiravam o olho de cima, sorrindo-lhes, cocando-os como uma presa.

Carlos ia seguir, mas pareceu-lhe ouvir, distante e melancolico, sahindo do silencio do hotel, um vago som de flauta; e parou ainda, remexendo as suas recordações, quasi certo de Damaso lhe ter dito que a bordo Castro Gomes tocava flauta...

— ­Isto é sublime! exclamou do lado o Cruges, commovido.

Parara diante da grade d’onde se domina o valle. E d’ali olhava, enlevadamente, a rica vastidão de arvoredo cerrado, a que só se veem os cimos redondos, vestindo um declive da serra como o musgo veste um muro, e tendo aquella distancia, no brilho da luz, a suavidade macia de um grande musgo escuro.