E n’esta espessura verde-negra havia uma frontaria de casa que o interessava, branquejando, affogada entre a folhagem, com um ar de nobre repouso, debaixo de sombras seculares... Um momento teve uma idéa de artista: desejou habital-a com uma mulher, um piano e um cão da Terra-nova.
Mas o que o encantava era o ar. Abria os braços, respirava a tragos deliciosos:
— Que ar! Isto dá saude, menino! Isto faz reviver!...
Para o gosar mais docemente, sentou-se adiante, n’um bocado de muro baixo, defronte de um alto terraço gradeado, onde velhas arvores assombreiam bancos de jardim, e estendem sobre a estrada a frescura das suas ramagens, cheias do piar das aves. E como Carlos lhe mostrava o relogio, as horas que fugiam para ir vêr o palacio, a Pena, as outras bellezas de Cintra — o maestro declarou que preferia estar ali, ouvindo correr a agua, a vêr monumentos caturras...
— Cintra não são pedras velhas, nem cousas gothicas... Cintra é isto, uma pouca de agua, um bocado de musgo... Isto é um paraiso!...
E, n’aquella satisfação que o tornava loquaz, acrescentou, repetindo a sua chalaça:
— E v. ex.ª deve sabel-o, sr. Maia, porque tem experiencia de hespanholas!...
— Poupa-me, respeita a natureza, murmurou Carlos, que riscava pensativamente o chão com a bengala.