OS MAIAS
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a idéa, de pequeno, que Sitiaes era um montão pittoresco de rochedos, dominando a profundidade de um valle; e a isto misturava-se vagamente uma recordação de luar e de guitarras... Mas aquillo que elle alli via era um desapontamento.

— ­A vida é feita de desapontamentos, disse Carlos. Anda para diante!

E apressou o passo atravez do terreiro, em quanto o maestro, cada vez mais animado, lhe gritava a chalaça do dia:

— ­E v. ex.ª deve sabel-o, sr. Maia, porque tem experiência de hespanholas!...

Alencar, que se demorara atraz a accender o cigarro, estendeu o ouvido, curioso, quiz saber o que era isso de hespanholas? O maestro contou-lhe o encontro no Nunes e os furores da Concha.

Iam ambos caminhando por uma das alamedas lateraes, verde e fresca, de uma paz religiosa, como um claustro feito de folhagem. O terreiro estava deserto; a herva que o cobria, crescia ao abandono, toda estrellada de botões de ouro brilhando ao sol, e de malmequersinhos brancos. Nenhuma folha se movia: atravez da ramaria ligeira o sol atirava mólhos de raios de ouro. O azul parecia recuado a uma distancia infinita, repassado de silencio luminoso; e só se ouvia, ás vezes, monotona e dormente, a voz de um cuco nos castanheiros.

Toda aquella vivenda, com a sua grade enferrujada sobre a estrada, os seus florões de pedra roídos da chuva, o pesado brazão rococó, as janellas cheias