330
OS MAIAS

Na Lawrence o jantar prolongou-se até ás oito horas, com luzes; — ­e o Alencar fallou sempre. Tinha esquecido n’esse dia as desillusões da vida, todos os rancores litterarios, estava n’uma veia excellente; e foram historias dos velhos tempos de Cintra, recordações da sua famosa ida a Paris, cousas picantes de mulheres, bocados da chronica intima da Regeneração... Tudo isto com estridencias de voz, e filhos isto! e rapazes aquillo! e gestos que faziam oscillar as chammas das vellas, e grandes copos de Collares emborcados de um trago. Do outro lado da meza, os dois inglezes, correctos nos seus fraques negros, de cravos brancos na botoeira, pasmavam, com um ar embaraçado a que se misturava desdem, para esta desordenada exhuberancia de meridional.

A apparição do bacalhau foi um triumpho: — ­e a satisfação do poeta tão grande, que desejou mesmo, caramba, rapazes, que ali estivesse o Ega!

— ­Sempre queria que elle provasse este bacalhau! Já que me não aprecia os versos, havia de me apreciar o cozinhado, que isto é um bacalhau de artista em toda a parte!... N’outro dia fil-o lá em casa dos meus Cohens; e a Rachel, coitadinha, veiu para mim e abraçou-me... Isto, filhos, a poesia e a cozinha são irmãs! Vejam vocês Alexandre Dumas... Dirão vocês que o pae Dumas não é um poeta... E então d’Artagnan? D’Artagnan é um poema... É a faisca é a phantasia, é a inspiração, é o sonho, é o arrobo! Então, pôço, já vêem vocês, que é poeta!... Pois vocês hão-de vir um dia d’estes jantar commigo, e ha-de