OS MAIAS
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— ­Então v. ex.ª não se tenta? repetia elle para o maestro.

Cruges, com effeito, parára, roçando-se pela meza, com o olho nas cartas e no ouro do monte, já sem força, remexendo o dinheiro nas algibeiras. Subitamente um az decidiu-o. Com a mão nervosa, escorregou-lhe uma libra por baixo, jogando cinco tostões, e de porta. Perdeu logo. Quando Carlos voltou do quarto com o criado que descia as malas, o maestro estava em pleno vicio, com a libra entalada, os olhos accezos, o ar esguedelhado.

— ­Então tu?... — ­exclamou Carlos com severidade.

— ­Já desço, rosnou o maestro.

E, á pressa, foi á paz da libra, n’um terno contra o rei. Cartada de colicas! como disse o Palma: e foi com emoção que elle começou a puxar as cartas, espremendo-as uma a uma, n’um vagar mortal. A apparição de um bico arrancou-lhe uma praga. Era apenas um duque, Eusebiosinho perdia mais uma placa. Palma teve um suspirinho de alivio; e, escondendo com ambas as mãos o baralho, erguendo as lunetas faiscantes para o maestro:

— ­Então, sempre continúa toda a libra?...

— ­Toda.

Palma teve outro suspiro, d’anciedade; e, mais pallido, voltou bruscamente as cartas.

— ­Rei! gritou elle, empolgando o ouro.

Era o rei de paus, a sua hespanhola bateu as palmas, o maestro abalou furioso.