OS MAIAS
339

a idéa, deixal-a incompleta, exageral-a, para a phrase ganhar em belleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela agoa abaixo o pensamento, mas salve-se a bella phrase.

— ­Questão de temperamento, disse Carlos. Ha sêres inferiores, para quem a sonoridade de um adjectivo é mais importante que a exactidão de um systema... Eu sou d’esses monstros.

— ­Diabo! então és um rhetorico...

— ­Quem o não é? E resta saber por fim se o estylo não é uma disciplina do pensamento. Em verso, o avô sabe, é muitas vezes a necessidade de uma rima que produz a originalidade de uma imagem... E quantas vezes o esforço para completar bem a cadencia de uma phrase, não poderá trazer desenvolvimentos novos e inesperados de uma idéa... Viva a bella phrase!

— ­O sr. Ega annunciou o Baptista, erguendo o reposteiro, quando começava justamente a tocar a sineta do almoço.

— ­Fallae na phrase... — ­disse Affonso, rindo.

— ­Hein? Que phrase? O que?.. — ­exclamou Ega, que rompeu pelo quarto, com o ar estonteado, a barba por fazer, a gola do paletot levantada. Oh! por aqui a esta hora sr. Affonso da Maia! Como está v. ex.ª? Dize-me cá, Carlos, tu é que me podes tirar d’uma atrapalhação... Tu terás por acaso uma espada que me sirva?

E, como Carlos o olhava assombrado, acrescentou, já impaciente: