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OS MAIAS

Sim, viviam em Paris no inverno, no parque Monceaux; de verão iam para uma quinta da Touraine ao pé mesmo de Tours, onde ficavam até ao começo da caça; e iam sempre passar um mez a Dieppe. Pelo menos fora assim, nos ultimos tres annos, desde que ella estava com Madame.

Emquanto a ingleza fallava, Rosa, com a sua boneca nos braços, não cessava de olhar Carlos gravemente e como maravilhada. Elle, de vez em quando sorria-lhe, ou acariciava-lhe a mãosinha. Os olhos da mãe eram negros: os do pae d’azeviche e pequeninos: de quem herdara ella aquellas maravilhosas pupillas d’um azul tão rico, liquido e doce.

Mas a sua visita de medico findara, ergueu-se para receitar um calmante. Emquanto a ingleza preparava muito cuidadosamente o papel, e experimentava a pena, elle examinou um momento o quarto. N’aquella installação banal d’hotel, certos retoques d’uma elegancia delicada revelavam a mulher de gosto e de luxo: sobre a commoda e sobre a meza havia grandes ramos de flores: os travesseiros e os lençoes não eram do hotel, mas proprios, de bretanha fina, com rendas e largos monogrammas bordados a duas côres. Na poltrona que ella usava uma cachemira de Tarnah disfarçava o medonho reps desbotado.

Depois, ao escrever a receita, Carlos notou ainda sobre a meza alguns livros de encadernações ricas, romances e poetas inglezes: mas destoava ali, estranhamente, uma brochura singular — ­o Manual de interpretação dos sonhos. E ao lado, em cima do toucador,