OS MAIAS
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o ar, berrava, sem cessar, como cevando-se na estridencia da propria voz.

— ­Quero matal-o! Quero matal-o! Quero matal-o!

Depois, allucinado, sem ver Carlos, rompeu a passear desabridamente pelo quarto, ás patadas, com o manto deitado para traz, a espada mal afivelada batendo-lhe as canellas escarlates.

— ­Então descobriu tudo, murmurou Carlos.

— ­Está claro que descobriu tudo! exclamou o Ega, no seu passear arrebatado, atirando os braços ao ar. Como descobriu, não sei. Sei isto, já não é pouco. Poz-me fóra!... Hei-de-lhe metter uma bala no corpo! Pela alma de meu pae, hei-de-lhe varar o coração!... Quero que vás lá logo pela manhã com o Craft... E as condições são estas: á pistolla, a quinze passos!

Carlos, agora outra vez sereno, acabava a sua chavena de chá. Depois disse muito simplesmente:

— ­Meu querido Ega, tu não podes mandar desafiar o Cohen.

O outro estacou de repellão, atirando pelos olhos dois relampagos d’ira — ­a que as medonhas sobrancelhas de crepe, as duas pennas de gallo ondeando na gorra, davam uma ferocidade theatral e comica.

— ­Não o posso mandar desafiar?

— ­Não.

— ­Então põe-me fóra de casa...

— ­Estava no seu direito.

— ­No seu direito!... Diante de toda a gente?...

— ­E tu, não eras amante da mulher diante de toda a gente?...