Ega emmudeceu-o. Apezar dos toques de caracterisação que quasi o mascaravam, sobrancelhas de diabo, guias de bigode ferozmente exageradas — sentia-se bem a afflicção em que vinha, com os olhos injectados, perdido, n’uma terrivel pallidez. Fez um gesto a Carlos, arremessou-se pelo gabinete dentro. Baptista, logo, discretamente, retirou-se cerrando o reposteiro.
Estavam sós. Então Ega, apertando desesperadamente as mãos, n’uma voz rouca e d’agonia:
— Tu sabes o que me succedeu, Carlos?
Mas não poude dizer mais, suffocado, tremendo todo; e diante d’elle, devorando-o com os olhos, Carlos tremia tambem, enfiado.
— Cheguei a casa dos Cohens, continuou Ega por fim com esforço e quasi balbuciando, mais cedo, como tinhamos combinado. Ao entrar na sala, já estavam duas ou tres pessoas... Elle vem direito a mim, e diz-me: «Você, seu infame, ponha-se já no meio da rua... Já no meio da rua senão, diante d’esta gente, corro-o a pontapés!» E eu, Carlos...
Mas a colera outra vez abafou-lhe a voz. E esteve um momento mordendo os beiços, recalcando os soluços, com os olhos reluzentes de lagrimas.
Quando as palavras voltaram, foi uma explosão selvagem:
— Quero-me batter em duello com aquelle malvado, a cinco passos, metter-lhe uma bala no coração!
Outros sons estrangulados escaparam-se-lhe da garganta; e, batendo furiosamente o pé, esmurrando