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OS MAIAS

dar com correcção o nó da gravata; e seria agradavel, mesmo para elle Damaso, reunirem-se todos de vez em quando, com o Craft, com o marquez, a fumar um charuto e a fallar de cavallos. Isto decidiu Damaso, que terminou por propôr a Carlos o leval-o uma tarde ao hotel Central. Carlos porém não queria entrar pelo hotel dentro, de chapeu na mão, atraz do Damaso. Resolveram então esperar pelas corridas, onde os Castro Gomes tencionavam ir. «Ahi, no recinto da pesagem, disse o Damaso, a apresentação é mais chic... É mesmo pôdre de chic

— ­Deus queira com effeito que não chova no domingo, murmurou Carlos quando o marquez desceu, mais tristonho, mais abafado no seu cache-nez.

Foram seguindo pelo meio da rua, em direcção ao Ferregial. Adiante do Gremio, encostado ao passeio, estava um coupé da Companhia, com um trintanario de luvas brancas esperando junto ao portal. Carlos olhou, casualmente; e viu, debruçado á portinhola, um rosto de creança, d’uma brancura adoravel sorrindo-lhe, com um bello sorriso que lhe punha duas covinhas na face. Reconheceu-a logo. Era Rosa, era Rosicler: e ella não se contentou em sorrír, com o seu doce olhar azul fugindo todo para elle, — ­deitou a mãosinha de fóra, atirou-lhe um grande adeus. No fundo do coupé, forrado de negro, destacava um perfil claro d’estatua, um tom ondeado de cabello louro. Carlos tirou profundamente o chapeu, tão perturbado, que os seus passos hesitaram. Ella abaixou a cabeça, de leve; alguma cousa de luminoso, um confuso