OS MAIAS
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rubor d’emoção, espalhou-se-lhe no rosto. E fugitivamente foi como se, da mãe e da filha, ao mesmo tempo, viesse para elle uma suave e quente emanação de sympathia.

— ­Caramba, aquillo pertence-lhe? perguntou o marquez, que notara a impressão de Madame Gomes.

Carlos córou.

— ­Não, é uma senhora brazileira a quem eu curei aquella pequerrucha...

— ­Irra! que gratidão! rosnou o outro de dentro das dobras do seu cachenez.

Caminhando em silencio pelo Ferregial, Carlos revolvia uma idéa que lhe viera de repente, ao receber aquelle doce olhar. Por que é que Damaso não levaria uma manhã o Castro Gomes aos Olivaes, a vêr as collecções do Craft?... Elle estaria lá, abria-se uma garrafa de Champagne, discutiam bric-à-brac. Depois, muito naturalmente, elle convidava Castro Gomes a almoçar no Ramalhete, para lhe mostrar o grande Rubens, e as suas velhas colxas da India. E assim, já antes das corridas existiria entre elles uma camaradagem, talvez um tratamento de você.

No Aterro, temendo o ar do rio, o marquez quiz tomar uma tipoia; e, até ao Ramalhete, continuaram callados. O marquez, outra vez inquieto, apalpava a garganta. Carlos discutia complicadamente comsigo aquella lenta inclinação de cabeça, o olhar d’ella, o vivo rubor fugitivo... Ella até ahi não o conhecia talvez. Mas, depois de atirar o seu grande adeus, Rosa, ainda sorrindo, voltara-se para a mãe, a