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OS MAIAS

libra. Foi necessario Craft saltar da almofada, ir lá parlamentar — ­emquanto Carlos, impaciente, raspando com o chicote as ancas das egoas, luzidias como um setim castanho, riscava no largo uma volta brusca e nervosa. Desde o Ramalhete viera assim governando, irritadamente, sem descerrar os labios. É que toda aquella semana, desde a tarde em que combinara com o Damaso a visita aos Olivaes, fôra desconsoladora. O Damaso tinha desapparecido, sem mandar a resposta dos Castro Gomes. Elle, por orgulho, não procurara o Damaso. Os dias tinham passado, vazios; não se realisara o alegre idyllio dos Olivaes; ainda não conhecia Madame Gomes; não a tornara a ver; não a esperava nas corridas. E aquelle domingo de festa, o grande sol, a gente pelas ruas, vestida de casimiras e de sedas de missa, enchiam-n’o de melancolia e de malestar.

Uma caleche de praça passou, com dous sujeitos de flores ao peito, acabando de calçar as luvas; depois um dog-cart, governado por um homem gordo, de lunetas pretas, quasi foi esbarrar contra o Arco. Emfim, Craft voltou com o seu bilhete, tendo sido descomposto pelo homem de barbas propheticas.

Para além do arco, a poeira suffocava. Pelas janellas havia senhoras debruçadas, olhando por debaixo de sombrinhas. Outros municipaes, a cavallo, atravancavam a rua.

Á entrada para o hyppodromo, abertura escalavrada n’um muro de quintarola, o phaeton teve de parar atráz do dog-cart do homem gordo — ­que não