OS MAIAS
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Seguiram devagar ao comprido da tribuna. Debruçadas no rebordo, n’uma fila muda, olhando vagamente, como d’uma janella em dia de procissão, estavam ali todas as senhoras que vêem no high-life dos jornaes, as dos camarotes de S. Carlos, as das terças-feiras dos Gouvarinhos. A maior parte tinha vestidos serios de missa. Aqui e além um d’esses grandes chapéos emplumados á Gainsborough, que então se começavam a usar, carregava d’uma sombra maior o tom trigueiro de uma carinha miuda. E na luz franca da tarde, no grande ar da collina descoberta, as pelles appareciam murchas, gastas, molles, com um baço de pó de arroz.

Carlos cumprimentou as duas irmãs do Taveira, magrinhas, loirinhas, ambas correctamente vestidas de xadrezinho: depois a viscondessa d’Alvim, nedia e branca, com o corpete negro reluzente de vidrilhos, tendo ao lado a sua terna inseparavel, a Joaninha Villar, cada vez mais cheia, com um quebranto cada vez mais doce nos olhos pestanudos. Adiante eram as Pedrosos, as banqueiras, de côres claras, interessando-se pelas corridas, uma de programma na mão, a outra de pé e de binoculo estudando a pista. Ao lado, conversando com Steinbroken, a condessa de Soutal, desarranjada, com um ar de ter lama nas saias. N’uma bancada isolada, em silencio, Villaça com duas damas de preto.

A condessa de Gouvarinho ainda não viera. E não estava tambem aquella que os olhos de Carlos procuravam, inquietamente e sem esperança.