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OS MAIAS

— ­É um canteirinho de camelias meladas, disse o Taveira, repetindo um dito do Ega.

Carlos, no entanto, fôra fallar á sua velha amiga D. Maria da Cunha que, havia momentos, o chamava com o olhar, com o leque, com o seu sorriso de bôa mamã. Era a unica senhora que ousara descer do retiro ajanellado da tribuna, e vir sentar-se em baixo, entre os homens: mas, como ella disse, não aturara a séca de estar lá em cima perfilada, á espera da passagem do Senhor dos Passos. E, bella ainda sob os seus cabellos já grisalhos, só ella parecia divertir-se alli, muito á vontade, com os pés pousados na travessa d’uma cadeira, o binoculo no regaço, cumprimentada a cada instante, tratando os rapazes por meninos... Tinha comsigo uma parenta que apresentou a Carlos, uma senhora hespanhola, que seria bonita se não fossem as olheiras negras, cavadas até ao meio da face. Apenas Carlos se sentou ao pé d’ella, D. Maria perguntou-lhe logo por esse aventureiro do Ega. Esse aventureiro, disse Carlos, estava em Celorico compondo uma comedia para se vingar de Lisboa, chamada o Lodaçal...

— ­Entra o Cohen? perguntou ella, rindo.

— ­Entramos todos, sr.ª D. Maria. Todos nós somos lodaçal...

N’esse momento, por traz do recinto, rompia, com um taran-tan-tan mollengão de tambores e pratos, o hymno da Carta, a que se misturou uma voz de official e o bater de coronhas. E, entre dourados de dragonas, El-rei appareceu na tribuna, sorrindo, de