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OS MAIAS

durante um momento ouviu-se, como um glou-glou grosso de perú, a voz da baroneza achando que c’était charmant, c’était très beau. O barão, aos pulinhos, aos risinhos, trouvait ça ravissant. E o Alencar, diante d’aquelles estrangeiros que o não tinham saudado, apurava a sua attitude de grande homem nacional, retorcendo a ponta dos bigodes, alçando mais a fronte núa.

Quando elles seguiram para a tribuna, e a boa D. Maria se tornou a sentar, o poeta, indignado, declarou que abominava allemães! O ar de sobranceria com que aquella ministra, com feitio de barrica deixando sahir o cebo por todas as costuras do vestido, o olhára, a elle! Ora, a insolente baleia!

D. Maria sorria, olhando com sympathia o poeta. E voltando-se de repente para a senhora hespanhola:

— ­Concha, deja-me presentar-te D. Thomaz de Alencar, nuestro gran poeta lyrico...

N’esse momento, algum dos rapazes mais amadores, dos que traziam binoculos a tiracollo, apressaram o passo para a corda da pista. Dois cavallos passavam n’um galope sereno, quasi juntos, sob as vergastadas estonteadas de dois jockeys de grande bigode. Uma voz erguendo-se disse que tinha ganhado Escossez. Outros affirmavam que fôra Jupiter. E no silencio que se fez, de lassidão e de desapontamento, ondeou mais viva no ar, lançada pelos flautins da banda, a valsa de madame Angot. Alguns sujeitos tinham-se conservado de costas para a pista, fumando, olhando a tribuna — ­onde as senhoras continuavam