OS MAIAS
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de uma leve agoada côr de rosa: e o distante horisonte resplandecia, com dourados de sol, brilhos de rio vidrado, fundindo-se n’uma nevoa luminosa, onde as collinas, nos seus tons azulados, tinham quasi transparencia, como feitas d’uma substancia preciosa...

— ­É Rabbino! exclamou por traz de Carlos, um sugeito, de pé n’um degrau.

As côres encarnadas e brancas do Darque corriam com effeito na frente. Os dous outros cavallos iam juntos; e, o ultimo, n’um galope que adormecia, era Vladimiro, outro potro do Darque, baio-claro, quasi louro á luz.

Então, a secretaria da Russia bateu as palmas, interpellou Carlos, que justamente tirara na poule o numero de Vladimiro. A ella coubera Minhoto, uma pileca melancolica do Manoel Godinho; e tinham feito sobre os dous cavallos uma aposta complicada de luvas e de amendoas. Já umas poucas de vezes os seus lindos olhos garços tinham procurado os de Carlos; e agora tocava-lhe no braço com o leque, gracejava, triumphava...

— ­Ah, vous avez perdu, vous avez perdu! Mais c’est un vieux cheval de fiacre, vôtre Vladimir.

Como um cavallo de fiacre? Vladimiro era o melhor potro do Darque! Talvez ainda viesse a ser a unica gloria de Portugal, como outr’ora o Gladiador fôra a unica gloria da França! Talvez ainda substituisse Camões...

— ­Ah, vous plaisantez...