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OS MAIAS

instrucção. A horrivel Craben, entre outros diplomatas e moços de binoculo a tiracolo, dava do fundo grosso do papo, opiniões sobre Daudet, que elle achava très agreable. E, quando Carlos emfim abalou, o recinto, esquecidas as corridas, tomava um tom de soirée, no ar claro e fresco da collina, com o murmurio de vozes, um mover de leques, e ao fundo a musica tocando uma valsa de Strauss.

Carlos, depois de procurar muito Craft, encontrou-o no buffete com o Darque, com outros, bebendo mais champagne.

— ­Eu tenho de ir ainda a Lisboa, disse-lhe elle, e vou no phaeton. Abandono torpemente. Você vá para o Ramalhete como poder...

— ­Eu o levo! gritou logo o Vargas, que tinha já a gravata toda desmanchada. Levo-o no dog-cart. Eu me encarrego d’elle... O Craft fica por minha conta... É necessario recibo? Á saude do Craft, inglez cá dos meus... Hurrah!

— ­Hurrah! Hip, hip, hurrah!

D’ahi a pouco, a trote largo no phaeton, Carlos descia o Chiado, dava a volta para a rua de S. Francisco. Ia n’uma perturbação deliciosa e singular, com aquella certeza de que ella estava só na casa do Cruges: o ultimo olhar que ella lhe déra parecia ir adiante d’elle, chamando-o: e um despertar tumultuoso de esperanças sem nome atirava-lhe a alma para o azul.

Quando parou diante do portão — ­alguem, por dentro das janellas d’ella, ía correndo lentamente os sto-