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OS MAIAS

va-se justamente apeando de uma calecha de praça. Um momento ficaram alli á porta, em quanto Craft, procurando troco para o cocheiro, contava o final das corridas. No Premio de Consolação, um dos cavalleiros tinha cahido, quasi ao pé da meta, sem se magoar: e, por ultimo, já á partida, o Vargas, que ia na sua terceira garrafa de champagne, esmurrara um criado do buffete, com ferocidade.

— ­Assim, disse Craft completando o seu troco, estas corridas foram boas pelo velho principe Shakespereano de que tudo é bom quanto acaba bem.

— ­Um murro, disse Carlos rindo, é com effeito um bello ponto final.

No peristillo, o velho guarda-portão esperava, descoberto, com uma carta na mão para Carlos. Um criado tinha-a trazido, instantes antes de s. ex.ª chegar.

Era uma letra ingleza de mulher, n’um envelope largo, lacrado com um sinete d’armas. Carlos alli mesmo abriu-a: e, logo á primeira linha, teve um movimento tão vivo, de tão bella surpreza, illuminando-se-lhe tanto o rosto, que Craft do lado perguntou sorrindo:

— ­Aventura? Herança?...

Carlos, vermelho, metteu a carta no bolso, e murmurou:

— ­Um bilhete apenas, um doente...

Era apenas um doente, era apenas um bilhete, mas começava assim: — ­«Madame Castro Gomes apresenta os seus respeitos ao sr. Carlos da Maia, e roga-lhe o obsequio...» — ­depois, em duas breves palavras,