OS MAIAS
41

suspeita! Odiou o velho: e tinha apressado o casamento, aquella partida triumphante para Italia, para lhe mostrar bem que nada valiam genealogias, avós godos, brios de familia — ­deante dos seus braços nus... Agora porém que ia voltar a Lisboa, dar soirées, crear côrte, a reconciliação tornava-se indispensavel; aquelle pae retirado em Bemfica, com o rigido orgulho de outras edades, faria lembrar constantemente, mesmo entre os seus espelhos e os seus estofos, o brigue Nova Linda carregado de negros... E queria mostrar-se a Lisboa pelo braço d’esse sogro tão nobre e tão ornamental, com as suas barbas de Viso-rei.

— ­Dize-lhe que já o adoro, murmurava ella curvada sobre a escrivaninha acariciando os cabellos de Pedro. Dize-lhe que se tiver um pequeno lhe hei de pôr o nome d’elle... Escreve-lhe uma carta bonita, hein!

E foi bonita, foi terna a carta de Pedro ao papá. O pobre rapaz amava-o. Fallou-lhe commovido da esperança de ter um filho varão; as desintelligencias deviam findar em torno do berço d’aquelle pequeno Maia que alli vinha, morgado e herdeiro do nome... Contava-lhe a sua felicidade, com uma effusão de namorado indiscreto: a historia da bondade de Maria, das suas graças, da sua instrucção, enchia duas paginas: e jurava-lhe que apenas chegasse não tardaria uma hora em ir atirar-se aos seus pés...

Com effeito, apenas desembarcou, correu n’um trem a Bemfica. Dois dias antes o pae partira para S.ta Olavia: