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OS MAIAS

isto pareceu-lhe uma desfeita — ­e feriu-o acerbamente.

Fez-se então entre o pae e o filho uma grande separação. Quando lhe nasceu uma filha Pedro não lh’o participou — ­dizendo dramaticamente ao Villaça «que já não tinha pae!» Era uma linda bébé, muito gorda, loira e côr de rosa, com os bellos olhos negros dos Maias. Apesar do desejo de Pedro, Maria não a quiz crear; mas adorava-a com phrenesi; passava dias de joelhos ao pé do berço, em extasi, correndo as suas mãos cheias de pedrarias pelas carninhas tenras; pondo-lhe beijos de devota nos pésinhos, na rosquinha das côxas, balbuciando-lhe n’um enlevo nomes de grande amor, e perfumando-a já, enchendo-a já de laçarotes.

E n’estes delirios pela filha, brotava, mais amarga, a sua colera contra Affonso da Maia. Considerava-se então insultada em si mesma e n’aquelle cherubim que lhe nascera. Injuriava o velho grosseiramente, chamava-lhe o D. Fuas, o Barbatanas...

Pedro um dia ouviu isto, e escandalisou-se: ella replicou desabridamente: e deante d’aquella face abrazada, onde entre lagrimas os olhos azues pareciam negros de colera, elle só poude balbuciar timidamente:

— ­É meu pae, Maria...

Seu pae! E á face de toda a Lisboa tratava-a então como uma concubina! Podia ser um fidalgo, as maneiras eram de villão. Um D. Fuas, um Barbatanas, nada mais!...