OS MAIAS
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Nunca Maria fôra tão formosa. A maternidade dera-lhe um esplendor mais copioso; e enchia verdadeiramente, dava luz áquellas altas salas de Arroios, com a sua radiante figura de Juno loira, os diamantes das tranças, o eburneo e o lacteo do collo nu, e o rumor das grandes sedas. Com rasão, querendo ter, á maneira das damas da Renascença, uma flôr que a symbolisasse, escolhera a tulipa real opulenta e ardente.

Citavam-se os requintes do seu luxo, roupas brancas, rendas do valor de propriedades!... Podia fazel-o! o marido era rico, e ella sem escrupulo arruinal-o-hia, a elle e ao papá Monforte...

Todos os amigos de Pedro, naturalmente, a amavam. O Alencar esse proclamava-se com alarido seu «cavalleiro e seu poeta». Estava sempre em Arroios, tinha lá o seu talher: por aquellas salas soltava as suas phrases ressoantes, por esses sophás arrastava as suas poses de melancolia. Ia dedicar a Maria (e nada havia mais extraordinario que o tom langoroso e plangente, o olho turvo, fatal, com que elle pronunciava este nome — ­Maria!) ia dedicar-lhe o seu poema, tão annunciado, tão esperado — ­Flor de Martyrio! E citavam-se as estrophes que lhe fizera ao gosto cantante do tempo:

Vi-te essa noite no explendor das sallas
Com as loiras tranças volteando louca...

A paixão do Alencar era innocente: mas, dos outros intimos da casa, mais d’um de certo balbuciara já a sua declaração no boudoir azul em que ella recebia