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OS MAIAS

ás tres horas, entre os seus vasos de tulipas; as suas amigas porém, mesmo as peiores, affirmavam que os seus favores nunca teriam passado de alguma rosa dada n’um vão de janella, ou de algum longo e suave olhar por traz do leque. Pedro todavia começava a ter horas sombrias. Sem sentir ciumes, vinha-lhe ás vezes, de repente, um tedio d’aquella existencia de luxo e de festa, um desejo violento de sacudir da sala esses homens, os seus intimos, que se atropellavam assim tão ardentemente em volta dos hombros decotados de Maria.

Refugiava-se então n’algum canto, trincando com furor o charuto: e ahi, era em toda a sua alma um tropel de cousas dolorosas e sem nome...

Maria sabia perceber bem na face do marido «estas nuvens», como ella dizia. Corria para elle, tomava-lhe ambas as mãos, com força, com dominio:

— ­Que tens tu, amor? Estás amuado!

— ­Não, não estou amuado...

— ­Olha então para mim!...

Collava o seu bello seio contra o peito d’elle; as suas mãos corriam-lhe os braços n’uma caricia lenta e quente, dos pulsos aos hombros; depois, com um lindo olhar, estendia-lhe os labios. Pedro colhia n’elles um longo beijo, e ficava consolado de tudo.

Durante esse tempo Affonso da Maia não sahia das sombras de St.ª Olavia, tão esquecido para lá como se estivesse no seu jazigo. Já se não fallava d’élle em Arroios, D. Fuas estava roendo a teima. Só Pedro ás vezes perguntava a Villaça «como ia o papá.»