OS MAIAS
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gavetões. No vasto leito, o pequeno dormia como um Menino Jesus cançado, com o seu guiso apertado na mão. Affonso não ousou beijal-o, para o não acordar com as barbas asperas; mas tocou-lhe na rendinha da camisa, entalou a roupa contra a parede, deu um geito ao cortinado, enternecido, sentindo toda a sua dôr calmar-se n’aquella sombra de alcova onde o seu neto dormia.

— ­É necessario alguma cousa, ama? perguntou, abafando a voz.

— ­Não, meu senhor...

Então, sem ruido, subiu ao quarto de Pedro. Havia uma fenda clara, entreabriu a porta. O filho escrevia, á luz de duas vellas, com o estojo aberto ao lado. Pareceu espantado de ver o pae: e na face que ergueu, envelhecida e livida, dois sulcos negros faziam-lhe os olhos mais refulgentes e duros.

— ­Estou a escrever, disse elle.

Esfregou as mãos, como arripiado da friagem do quarto, e accrescentou:

— ­Amanhã cedo é necessario que o Villaça vá a Arroios... Estão lá os criados, tenho lá dois cavalos meus, emfim uma porção de arranjos. Eu estou-lhe a escrever. É numero 32 a casa d’elle, não é? O Teixeira ha de saber... Boas noites, papá, boas noites.

No seu quarto, ao lado da livraria, Affonso não poude socegar, n’uma oppressão, uma inquietação que a cada momento o faziam erguer sobre o travesseiro, escutar: agora, no silencio da casa e do