OS MAIAS
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é realista... Pudéra, se é paizagem! Ora eu vol-o digo... Ia justamente dizel-o, quando tu appareceste, Ega... Mas vejam lá vocês se isto os massa...

Qual massava! E até, para o escutarem melhor, penetraram na rua de S. Francisco, mais silenciosa. Ahi, dando um passo lento, depois outro, o poeta murmurou a sua ecloga. Era em Cintra, ao pôr do sol: uma ingleza, de cabellos soltos, toda de branco, desce n’um burrinho por uma vereda que domina um valle; as aves cantam de leve, ha borboletas em torno das madresilvas; então a ingleza pára, deixa o burrinho, olha enlevada o céo, os arvoredos, a paz das casas; — e ahi, no ultimo terceto, vinha «a nota realista» de que se ufanava o Alencar:

Ella olha a flôr dormente, a nuvem casta,

Emquanto o fumo dos casaes se eleva

E ao lado o burro, pensativo, pasta.

— Ahi têm vocês o traço, a nota naturalista... Ao lado o burro, pensativo, pasta... Eis ahi a realidade, está-se a vêr o burro pensativo... Não ha nada mais pensativo que um burro... E são estas pequeninas coisas da natureza que é necessario observar... Já vêem vocês que se póde fazer realismo, e do bom, sem vir logo com obscenidades... Vocês que lhes parece o sonetito?

Ambos o elogiaram profundamente — Carlos arrependido de não ter completado a humilhação do Damaso, dando-lhe bengaladas; Ega pensando que