OS MAIAS
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coisa brilhára, fugira para elle, de mais vivo, de mais dôce.

Com o seu chapéo na mão, pisando familiarmente aquelle corredor intimo, surprehendendo detalhes de vida domestica, Carlos sentia como a alegria d’uma posse. Por uma porta meio aberta pôde entrevêr uma banheira, e ao lado dependurados grandes roupões turcos de banho. Adiante, sobre uma mesa, estavam alinhadas, e como desencaixotadas recentemente, garrafas d’aguas mineraes de Saint-Galmier e de Vals. Elle deduzia logo d’estas coisas tão simples, tão banaes, evidencias de vida delicada.

Melanie correu um reposteiro de linho crú, fêl-o entrar n’um quarto claro e fresco: e ahi foi encontrar a pobre miss Sarah n’um leitosinho de ferro, sentada, com um laço de sêda azul ao pescoço, e os bandós tão lisos, tão acamados pela escova, como se fosse sahir n’um domingo para a capella presbyteriana. Na mesinha de cabeceira os seus jornaes inglezes estavam escrupulosamente dobrados, junto d’um copo com duas bellas rosas; e tudo no quarto resplandecia de severo arranjo, desde os retratos da familia real d’Inglaterra, expostos sobre a toalha de renda que cobria a commoda, até ás suas botinas bem engraxadas, classificadas, perfiladas n’uma prateleira de pinho.

Apenas Carlos se sentou, ella immediatamente, com duas rosetas de vergonha na face, entre frouxos de tosse, declarou que não tinha nada. Era a