OS MAIAS
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— Quem é? perguntou.

— É meu pai.

Ella examinou-o mais de perto, erguendo uma vela. Não achava que Carlos se parecesse com elle. E voltando-se muito séria, emquanto Carlos desarrolhava com veneração uma garrafa de velho Chambertin:

— Sabes tu com quem te pareces ás vezes?... É extraordinario, mas é verdade. Pareces-te com minha mãi!

Carlos riu, encantado d’uma parecença que os aproximava mais, e que o lisonjeava.

— Tens razão, disse ella, que a mamã era formosa... Pois é verdade, ha um não sei quê na testa, no nariz... Mas sobretudo certos geitos, uma maneira de sorrir... Outra maneira que tu tens de ficar assim um pouco vago, esquecido... Tenho pensado n’isto muitas vezes...

Baptista entrava com uma terrina de louça do Japão. E Carlos, alegremente, annunciou um jantar á portugueza. Mr. Antoine, o chef francez, fôra com o avô. Ficára a Michaela, outra cozinheira de casa, que elle achava magnifica, e que conservava a tradição da antiga cozinha freiratica do tempo do snr. D. João V.

— Assim, para começar, minha querida Maria, ahi tens tu um caldo de gallinha, como só se comia em Odivellas, na cella da madre Paula, em noites de noivado mystico...

E o jantar foi encantador. Quando Baptista se