OS MAIAS
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o lançára de novo e para sempre, como esposo, nos braços de Maria; e, na confiança absoluta que o prendia ao Ega, revelára-lhe mesmo miudamente a historia d’ella, dolorosa e justificadora. Depois, ao acalmar o calor, propoz que fossem comer as sopas á Toca. Ega deu uma volta pelo quarto, hesitando. Por fim começou a passar devagar a escova pelo paletot, murmurando, como durante as longas confidencias de Carlos: «É prodigioso!... Que estranha coisa, a vida!»

E agora pela estrada, na aragem dôce do rio, Carlos fallava ainda de Maria, da vida na Toca, deixando escapar do coração muito cheio o interminavel cantico da sua felicidade.

— É facto, Egasinho, conheço quasi a felicidade perfeita!

— E cá na Toca ainda ninguem sabe nada?

Ninguem — a não ser Melanie, a confidente — suspeitava a profunda alteração que se fizera nas suas relações: e tinham assentado que miss Sarah e o Domingos, primeiras testemunhas da sua amizade, seriam régiamente recompensados e despedidos quando em fins de outubro elles partissem para Italia.

— E ides então casar a Roma?...

— Sim... Em qualquer logar onde haja um altar e uma estola. Isso não falta em Italia... E é então, Ega, que reapparece o espinho de toda esta felicidade. É por isso que eu disse «quasi.» O terrivel espinho, o avô!