OS MAIAS
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— Isto agora é sério. Precisamos arranjar immediatamente a casa para a redacção!

Ega bracejava:

— Pudera! E moveis! E machinas!

Toda a manhã, no escriptorio d’Affonso, azafamados, com papel e lapis, se occuparam em fixar uma lista de collaboradores. Mas já as difficuldades surgiam. Quasi todos os escriptores suggeridos desagradavam ao Ega, por lhes faltar no estylo aquelle requinte plastico e parnasiano de que elle desejava que a Revista fosse o impeccavel modelo. E a Carlos alguns homens de letras pareciam impossiveis — sem querer confessar que n’elles lhe repugnava exclusivamente a falta de linha e o fato mal feito...

Uma coisa porém ficou decidida: a casa da redacção. Devia ser mobilada luxuosamente, com sofás do consultorio de Carlos e algum bric-à-brac da Toca: e sobre a porta (ornada d’um guarda-portão de libré) a taboleta de verniz preto, com Revista de Portugal em altas letras a ouro. Carlos sorria, esfregava as mãos, pensando na alegria de Maria ao saber esta decisão que o lançava, como era o desejo d’ella, na actividade, n’uma lucta interessante d’ideias. Ega, esse, via já a brochura côr de canario aos montões nas vitrines dos livreiros, discutida nas soirées do Gouvarinho, folheada na camara com espanto pelos politicos...

— Vai-se remexer Lisboa este inverno, snr.