os conselheiros d’Estado já sabem que para elle a propriedade era um roubo, e Deus era o mal...
O democrata encolheu os hombros:
— Grande homem, senhor! Homem immenso! São os tres grandes pimpões d’este seculo: Proudhon, Garibaldi, e o compadre!
— O compadre! exclamou Ega, attonito.
Era o nome d’amizade que o snr. Guimarães dava em Paris a Gambetta. Gambetta nunca o via, que não lhe gritasse de longe, em hespanhol: «Hombre, compadre!» E elle tambem, logo: «Compadre, caramba!» D’ahi ficára a alcunha, e Gambetta ria. Porque lá isso, bom rapaz, e amigo d’esta franqueza do sul, e patriota, até alli!
— Immenso, meu caro senhor! O maior de todos!
Pois Ega imaginaria que o snr. Guimarães, com as suas relações do Rappel, devia ter sobretudo o culto de Victor Hugo...
— Esse, meu caro senhor, não é um homem, é um mundo!
E o snr. Guimarães ergueu mais a face, ajuntou infinitamente grave:
— É um mundo! .. E aqui onde me vê, ainda não ha tres mezes que elle me disse uma coisa que me foi direita ao coração!
Vendo com deleite o interesse e a curiosidade do Ega, o democrata contou largamente esse glorioso lance que ainda o commovia:
— Foi uma noite no Rappel. Eu estava a escrever,