OS MAIAS
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Então o resto da noite passou-se no salão, em redor do piano. O ministro cantou melodias da Filandia. Telles da Gama tocou fados.

Carlos e Ega foram os derradeiros a sahir, depois de um brandy and soda, de que a condessa partilhou, como ingleza forte. E em baixo, no pateo, acabando de abotoar o paletot, Carlos pôde emfim soltar a pergunta que lhe faiscára nos labios toda a noite:

— Ó Ega, quem é aquelle homem, aquelle Sousa Netto, que quiz saber se em Inglaterra havia tambem litteratura?

Ega olhou-o com espanto:

— Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste immediatamente quem n’este paiz é capaz de fazer essa pergunta?

— Não sei... Ha tanta gente capaz...

E o Ega radiante:

— Official superior d’uma grande repartição do Estado!

— De qual?

— Ora de qual! De qual ha de ser?... Da Instrucção publica!

Na tarde seguinte, ás cinco horas, Carlos, que se demorára de mais em casa da titi com a condessa, retido pelos seus beijos interminaveis, fez voar o coupé até á rua de S. Francisco, olhando