16
MONTEIRO LOBATO

— E achas pouco, Bento ? disse eu, mettendo os dentes na raiz deliciosa. Não sabes que si não fosse a tua provideneial presença tinhamos que manducar viradinho de brisas com torresmos de zephiros até alcançar a venda do Alonso, amanhã ? Deus que te abençõe e te dê no céo um mandiocal plantado pelos anjos.

IV

Caira de todo a noite. Que céo! Alternava estrellas vivissimas com rebojos negros de nuvens acastelladas. Na terra, escuridào de breu, rasgada de piques de luz pelas estrellinhas avoantes. Uma coruja berrava longe num esgallho morto de perobeira.

Que solidão, que espessura de trevas é a de uma noite assim, no ermo ! Nesses momentos é que bem se comprehende a origem tenebrosa do Medo...

V

Acabada a magra refeição, disse ao preto:

— Agora, amigo, é agarrarmos estas mantas e pellegos, mais a luz, e irmo-nos á casa grande. Dormes lá comnosco, á guisa de para-raios de almas. Topas ?

Elle, contente de ser-nos util, sobraçou a quitanda e deu-me a levar o candieiro. E lá fomos pelo escuro da noite a chapinhar nas poças d'agua e nas gramas empapadas. Encontrei Jonas no mesmo logar, em frente á casa, immovel e absorto.