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MONTEIRO LOBATO

duras e olhar frio. Trazia botas, chapéu largo e rebenque na mão. Atras delle, como sombra, um capataz mal encarado.

O capitão notou minha presença, fez-me perguntas e ao cabo me propoz serviço em sua fazenda.

Acceitei e fiz a pé, em companhia do lote de negros adquiridos, essa viagem pelo interior do paiz novo onde tudo me era novidade.

Chegamos. A fazenda do Fundão, formada de pouco, ia no apogêo, riquissima de cannaviaes, gado e café em inicios. Deram-me servicinhos leves, compativeis com a idade e a minha nenhuma experiencia da terra. E sempre subindo de posto continuei alli até alcançar a idade dos vite annos.

A familia do capitão morava na Côrte. Os filhos homens vinham todos os annos passar temporadas na roça, enchendo a fazenda de travessuras loucas. Já as meninas, então no colegio, lá se deixavam ficar, mesmo nas ferias. Só vierum nma vez, com a mãe, Dona Theodora. E foi isso a nossa desgraça...

Eram duas, Ignez, a caçula, e Izabel, a mais velha, lindas meninas de luxo, irradiantes de mocidade. Eu as via de longe, como figaras nobres de romance, inacées e lembro-me do effeito que naquele sertão bruto, asselvajado pela escravaria retinta, fazia a imagem das meninas ricas, sempre vestidas à moda da côrte. Eram princezinhas de contos de fadas que provocavam um sentimento só : adoração.