Os Negros

25

Parti para Lisboa, um dia, a pé, como vagabundinho de estrada. Caminhada inesquecivel, faminta, mas rica dos melhores sonhos de minha vida. Via-me na terra nova feito mascate de bugiarias. Depois, vendeiro ; depois, commerciante com casa forte no Rio. Depois, já casado com linda cachopa, via-me de novo na Póvoa, rico, acatado, morando em quinta, senhor de vinhedos e terras de semeadura.

Assim embalado em sonhos de oiro alcancei o porto de Lisboa, onde passei o primeiro dia no caes, namorando os navios surtos no Tejo. Um havia em aprestos para largar de rumo à colonia, a caravella “Santa Thereza”, Acamaradando-me com velhos marujos de gandaia por alli consegui nella por intermedio delles o engajamento necessario.

— Já, fojes, aconselhou-me um, e afundas para o sertão. E mercadejas, e enriqueces, e voltas cá excellentissimo. E' o que faria eu si tivesse os verdes annos que tens.

Assim fiz; e prumete da “Santa Thereza” boiei no oceano de rumo ao paiz das maravilhas.

Em Africa aportamos para recolher pretos d' Angola, mettidos nos porões como fardos de couro fresco com care viva por dentro. Pobres pretos! Desembarcado no Rio tive occasião de vel-os ainda no Vallongo, semi-nús, expostos à venda como rezes. Os pretendentes chegavam, examinavam-nos, fechavam negocio.

Foi assim, nessa tarefa, que conheci o capitão Aleixo. Era um homem alentado, de feições